ZLATOZARA GOČEVA – In memoriam
Não serei, de certeza, eu a pessoa mais indicada para traçar o perfil e a biografia da Professora Zlatozara Gočeva, que ora, com imensa saudade, nos deixou.
Não disponho, de momento, de dados biográficos seus, por exemplo. Sei que era membro da Association Internationale d’Épigraphie Grecque et Latine desde os primeiros tempos, mas, na ausência de outros elementos, apenas dar, por agora, a minha opinião acerca do estreito relacionamento que, ininterruptamente, desde 1977, mantive com Zara (este, o nome por que os amigos a tratávamos).
Foi, de facto, em Setembro de 1977, no VIIème Congrès International d'Épigraphie Grecque et Latine, em Constanza (Roménia), que me foi apresentada por Robert Étienne. Encontrámo-nos de novo, dez anos depois, em Sófia, em Setembro de 1987, no IXème Congrès International d'Épigraphie Grecque et Latine, congresso de que ela própria foi uma das dinamizadoras. E noutras reuniões científicas partilhámos opiniões, nomeadamente no campo da religião romana e da aculturação.
Era uma personalidade cativante logo à primeira vista, sempre bem disposta, sempre com vontade de que todos os amigos fossem a Sófia dar conferências, contribuir para o avanço dos estudos da Antiguidade Clássica, dar-lhes a conhecer as especificidades da sua Trácia. Membro do Instituto de Tracologia da Academia Búlgara, dirigiu escavações e investigou sobre as características da religião romana em território trácio, tendo-se debruçado, de modo particular, sobre a problemática das representações e significado do cavaleiro trácio (procurou mostrar, por exemplo, que havia diferença substancial entre o cavaleiro trácio e o cavaleiro medieval…) e sobre as representações religiosas (das divindades clássicas e indígenas). Historiadora, portanto, e epigrafista de mérito.
Não se poupou a esforços para elevar o estudo da Antiguidade Clássica do seu país ao lugar que ele merecia, lutando, inclusive, contra todos os preconceitos, inclusive políticos. Permita-se-me que recorde ter, em 4 de Setembro de 1987, jantado em sua casa, que ficava na zona residencial de Sófia, e ter recebido de sua mãe o encargo de entregar uma mensagem pessoal à rainha da Bulgária, exilada em Cascais (como se sabe) e que eu conhecia. A família Gočeva estivera intimamente ligada à família real; seu pai ocupara uma alta patente militar e sua mãe trabalhara como voluntária da Cruz Vermelha durante a II Grande Guerra; e, daí, o relacionamento com a Rainha exilada. Tive, na verdade, a honra de entregar pessoalmente essa mensagem.
Do vasto rol dos seus trabalhos científicos - de que parte pode ser consultada em http://www.thracians.net/index.php?option=com_content&task=view&id=195&Itemid=79 – permita-se-me que assinale apenas o mais antigo texto que dela recebi: «Le culte d’Apollon en Thrace», Pulpudeva 1 1976 34-38; e o mais recente: «La Thrace Pontique et la mythologie grecque», in Ancient Greek Colonies in the Black Sea. Vol. I. Grammenos, D. V., E. K. Petropoulos (Eds), Oxford, 2007, 51-84. (= BAR, International Series 1675 (I), 2007).
Uma investigadora de elevada craveira intelectual e perspicácia, incansável!
Que ora descanse em paz!